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Vencer ou morrer : A Segunda Guerra Mundial e o Remo do Brasil


Durante a Segunda Guerra Mundial, é estimado que o Brasil recebeu 75 mil refugiados que vieram com as suas famílias do continente europeu, de países diversos. Entre os anos de 1947 e 1951, conforme o Diversitas – Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos – USP, o país recebeu 25mil imigrantes. Em 1948, foi formada uma comissão mista Brasil - O I.R. (decreto 25.796 de 10-11-1948), a partir da qual o governo brasileiro comprometia-se a receber uma quota de deslocados de guerra, embora o país já os recebesse desde o início do conflito. Alguns países ficaram completamente destruídos como consequência de um dos capítulos mais tristes da história da humanidade.

pai dos irmaos melis

Foram seis anos de sofrimento para a população europeia durante a Segunda Guerra e mais décadas onde famílias tiveram que sobreviver aos danos e consequências catastróficas do conflito militar. O Brasil passava por um momento delicado em sua própria política nacional. Quando a 2ª Guerra Mundial eclodiu, em setembro de 1939, o nosso país vivia o Estado Novo, isto é, a ditadura de Getúlio Vargas. O Congresso havia sido fechado, os partidos, extintos, e o presidente contava com apoio dos militares.

Ainda assim o Brasil foi o único pais da América do Sul a mandar soldados sob a sua própria bandeira A participação brasileira na guerra deu-se a partir de 1942, com o rompimento das relações diplomáticas com o Eixo e o envio de tropas em junho de 1944, foram aproximadamente 25 mil soldados, que lutaram no Fronte de batalha do norte da Itália, chamados de a Força Expedicionária Brasileira (FEB), conforme o livro "Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial" de Cesar Ferraz.

Ao longo da história, o Brasil recebeu cerca de 1,5 milhão de imigrantes, sendo que cerca de 650 mil são deslocados ou solicitantes de refúgio, informações retiradas do Portal das Câmaras dos Deputados. Alguns vieram por momentos trágicos de dificuldades militares, políticas e econômicas de seus países e consequências da Segunda Guerra Mundial, se tornando também refugiados por motivos de conflito armado.

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Remar é preciso?Neste período da história mundial, as Olimpíadas foram suspensas por duas edições e a Alemanha ficou proibida de participar por dois ciclos olímpicos, uma das diversas sanções que o país recebeu ao final do conflito. Após Berlim, em 1936, ter sido a cidade sede dos últimos Jogos antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial.

Entre os milhares de refugiados que o Brasil recebeu, grande parte deles eram crianças muito jovens e encontraram no nosso território mais que um segundo lar ou uma segunda pátria, encontraram um país para defender e respeitar. Alguns desses jovens europeus se naturalizaram brasileiros e acharam no esporte, mais especificamente no remo, um motivo para amar o Brasil e honrar as cores de nossa bandeira.

Edgard Gijsen:Nascido na Antuérpia, Bélgica, em 29 de janeiro de 1940. Era o filho mais novo de seus pais e chegou ao Brasil em 1943, de acordo com relatos de sua família. Iniciou sua carreira anos mais tarde no Grêmio Náutico União, do Rio Grande do Sul, se tornando campeão brasileiro defendendo as cores do clube gaúcho. Alguns anos mais tarde, se mudou para o Rio de Janeiro, onde competiu pelo Vasco da Gama e Flamengo.

edgard gijsen

O atleta era mais conhecido como Belga, apelido adquirido no esporte. Para competir pela Seleção Brasileira, o remador buscou a cidadania brasileira e foi tetra campeão sul-americano ao lado de Harry Klein e campeão sul-americano de single skiff. Edgard Gijsen foi um dos remadores brasileiros, de sua geração, que mais conquistou títulos para o país e participou da melhor campanha brasileira em Jogos Pan-Americanos até hoje.

O Belga conquistou outras três medalhas em Jogos Pan-Americanos, sendo uma de prata e duas de bronze. Em competições sul-americanas, subiu ao pódio nove vezes, com cinco medalhas de ouro e quatro de prata.

Ao lado de Harry Klein, Edgard conquistou uma das três primeiras medalhas pan-americanas da história do remo brasileiro na edição de 1971, realizada em Cali, na Colômbia. Ainda conquistou um honroso sexto lugar na final A, no Campeonato Europeu da World Rowing em 1970. Resultado inédito para o remo brasileiro. Nesta época, o campeonato Mundial de Remo era disputado no intervalo de quatro anos e atletas de outros continentes poderiam participar da competição europeia como convidados.

Edgard Gijsen ainda nos representou nos Jogos Olímpicos do México em 1968, onde chegou ao primeiro lugar da final B, sendo a melhor colocação brasileira em Olimpíadas na prova do double skiff masculino(2xM), até hoje.

Os irmãos Melis: Os irmãos holandeses, nascidos em Roermond, Johannes Hendrikus Theodorus Wilhelms Melis e Ruthgerus Hermann Hendrikus Johanna Melis, vieram para o Brasil com sua família ainda crianças, com oito e nove anos respectivamente. Assim como o Belga se naturalizaram brasileiros e defenderam as cores da seleção brasileira de remo. Começaram na modalidade no Grêmio Náutico União, onde se destacaram na equipe do clube gaúcho.

Johannes melis

A história de imigração dos irmãos Melis acontece ao final da guerra, quando a família foi resgatada em um Bunker por soldados americanos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o pai dos futuros remadores, Hendrikus Ruthgerus Melis, teve papel fundamental na pequena cidade de Roermond, às margens do Rio Mosa (Maas), no resgate e esconderijo de famílias judaicas e um soldado canadense que teve o seu avião abatido.

A família passou por todo o drama e traumas impostos pela Segunda Guerra Mundial antes de migrar em um navio para o Rio de Janeiro. O pai dos meninos era um herói de guerra condecorado pela Rainha Beatrix da Holanda pelos seus trabalhos prestados e também recebeu uma carta de agradecimento do Presidente Americano, da época, Dwight D. Eisenhower.

Por dois anos, a família viveu em uma fazenda no Rio de Janeiro, se adaptando ao novo continente, até que uma proposta de trabalho para o pai dos atletas os fizesse vir a Porto Alegre. Mais tarde, em 1958, os irmãos Johannes e Ruthgerus se naturalizaram brasileiros ao serem campeões nacionais de remo, pelo Grêmio Náutico União. No mesmo ano, foram convocados para competir pelo Brasil no V Campeonato Sul-Americano. Trajando o uniforme verde-amarelo, trouxeram o título de campeões para o país, remando o dois sem timoneiro.

Os atletas ainda disputaram no mesmo ano, pelo GNU, a tradicional Maratona de 9mil metros chamada Sulbanco. A competição ocorreu durante 13 anos, tendo a sua última edição em 1972. Os índios ainda foram bicampeões de dois sem timoneiro pelo GNU em 1958 e 1960. Nove anos mais tarde, em 1967, Ruthgerus Melis chegou a ser treinador da equipe principal do GNU, infelizmente Ruth, como era mais conhecido, faleceu. Johannes Melis conta a saga de sua família e contribuiu para a reconstrução da história durante a Segunda Guerra Mundial, dando o seu testemunho de vida. Em 2023, o remador foi homenageado na primeira etapa da Regata do Estadual Gaúcho, promovida pela Remosul.

Iosif Landau: Nascido em 1924 em Bucareste, Romênia, Iosif Landau chegou ao Rio em 1940, com os pais e a irmã, fugindo do nazismo. De família de origem judaica, a libertação do regime da ditadura alemã fez o remador se tornar brasileiro de coração, cidadão carioca honorário. Começou a remar na Inglaterra em 1938, quando foi estudar em um internato para garotos chamado Maiden Erlegh School, perto do Rio Tamisa.

iosif landau sota voga

Iosif conta sua história de vida e como veio para o Brasil em 1940 em seu livro: Memória Tumultuada. Chegando no Rio de Janeiro, se tornou remador do Botafogo. Não chegou a remar pela seleção. Casado com uma brasileira, teve quatro filhos, um deles a economista e advogada Elena Landau.

Devido a seu trabalho, o remador tinha que viajar para outros estados e saiu do Rio de Janeiro para o interior de São Paulo, motivo pelo qual sua carreira como remador no Brasil não durou muito. A paixão pelo Botafogo e pelo Remo nunca diminuiu. Chegou a escrever um poema, uma Ode de Amor ao esporte e administrava um site onde mantinha artigos de terceiros e autorais sobre a modalidade.

Aos 70 anos, se aposentou e começou a sua segunda carreira: a de escritor. Chegando a publicar 11 livros. Em 2009, infelizmente, Iosif faleceu, deixando esposa, filhos, netos e um legado de amor pelo remo e pelo Brasil.

Attila e Otto Flegner: Os irmãos Flegner nasceram na Hungria e vieram para o Brasil com seu tio, primos e pai em 1957. Ao contrário dos demais atletas, a família Flegner estava fugindo das consequências da Revolução Húngara ocorrida no ano anterior, em 1956, revolta popular contra o governo ditatorial do país e as diretrizes da União Soviética, uma das consequências da Segunda Guerra Mundial.

Apesar da revolução durar menos de um ano, deixou mais de três mil mortos e 13mil feridos, em sua maioria jovens estudantes que marcharam até o parlamento e tentaram entrar em uma emissora de rádio na capital Budapeste. Nesta época, o mundo ainda vivia intensamente as consequências da Segunda Guerra Mundial. O Continente Europeu tentava se reconstruir, cidades inteiras tinham sido dizimadas.

Com o final da revolução, o governo de János Kádár se inicia com o apoio soviético e perdura até 1988 em forma de ditadura militar. O Ditador conduziu uma importante repressão contra os dissidentes, resultando em 13 mil presos políticos e 400 executados. O mundo agora era dividido em dois blocos econômicos e ideológicos e a Guerra Fria, que tinha começado em 1947, já mostrava as suas primeiras e dramáticas consequências.

Dispostos a fugir da ditadura que regia o seu país e dos constantes conflitos, a família Flegner se muda ao Brasil. Os irmãos gêmeos tinham apenas 13 anos quando chegaram ao porto do Rio de Janeiro. Apesar dos dramas familiares intensos, os irmãos construíram suas vidas e se tornaram brasileiros.

Conheceram o esporte no Brasil e por muitos anos remaram juntos no dois com timoneiro pelo Guanabara. Attila chegou a ser campeão brasileiro Master pelo clube carioca em 1989. Titulo que lembra com muito orgulho e carinho e faz parte de seu currículo. Os irmãos nunca remaram pela seleção brasileira, mas Attila e Otto se dedicaram ao esporte por décadas de treinamentos e ensinamentos.

Attila Flegner dedicou a sua carreira na Educação Física ao remo e chegou a ser professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como Professor Doutor da UFRJ recebeu em 1988 uma homenagem da Câmara dos Vereadores da capital carioca pelos seus serviços prestados a modalidade, como a extensão universitária entre 1971 e 1973 onde o objeto de estudo era o Remo, o que culminou com o professor sendo o vice-diretor do Laboratório de Fisiologia do Esporte e Performasse daquela entidade.

O Remo não foi apenas um esporte para Otto e Attila, mas uma maneira dos dois irmãos se conectarem com a nova vida e o novo país impostos como consequências da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria.

O remo jamais será apenas um esporte, é muito mais que isso! Porque é sobre a vida de pessoas.



Texto: Luciana Carvalho
Colaborador: José Luiz Emerim
Imagens: CBR/Internet

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